Revitalizando no Meio das Tempestades

O ministério pastoral é uma peregrinação pelo deserto – David Hansen.

O despertador toca. São 5h da manhã. Meu corpo está cansado, mesmo que ontem tenha sido um dia de folga. O aplicativo do smartwatch informa que a noite não foi boa. Olho rapidamente para a agenda do dia: alguns atendimentos a fazer, demandas da igreja para resolver e, claro, preciso começar a pensar no sermão. Nossa igreja está crescendo, mas me lembro de que, dias atrás, uma família pediu transferência. Disseram que não gostam da pregação nem da estética do culto. Um sentimento de incerteza me invade — não sei para onde ir ou o que fazer. Mas me levanto rapidamente. É hora de ir à academia, tempo de cuidar do templo do Espírito Santo: meu corpo.

Depois do exercício físico, é momento de cuidar da fé. Abro minha Bíblia e leio Êxodo 20. Deus se revela ao povo e traz uma lista de mandamentos, pedindo santidade e relacionamento com Ele. No entanto, em meio aos trovões e tremores, o povo sente medo. Eles recuam e pedem a Moisés que seja o intermediário; não querem se relacionar diretamente com Deus. Termino meu devocional com uma pergunta ressoando no coração: como tenho buscado me relacionar com Deus? Diretamente ou por intermédio de outra pessoa?

Olho pela janela e vejo que uma chuva pesada está se formando. Preciso levar minha cachorra para caminhar, mas minha esposa me alerta:
— Não vai muito longe, porque vai chover.

Mal sabia ela que uma tempestade de emoções já estava dentro de mim. A igreja na qual tenho trabalhado com tanto empenho passa por momentos difíceis. Financeiramente, temos o suficiente, mas será que conseguiremos honrar os compromissos no futuro? As células se multiplicaram, mas será que se sustentarão? Penso nos voluntários — hoje temos três vezes mais do que há quatro anos. Ainda assim, me preocupo com o andamento dos ministérios, com o acolhimento das novas pessoas, a classe de novos membros, a estrutura da comunidade. E, no meio disso tudo, a dor da saída de pessoas antigas da igreja. Duas famílias descontentes.

Enquanto caminho, são cerca de 4 km, minha oração começa a brotar:
— Senhor, será que estou no lugar certo? Será que sou a pessoa certa? Sou mesmo capacitado?

Converso com Deus, exponho tudo o que já fiz pela igreja e confesso como me sinto diante das adversidades. Sinto medo. O peso da responsabilidade parece esmagador. Peço que Ele fale comigo, que me mostre o que deseja de mim.

E, então, algo inesperado acontece. Uma música começa a tocar na playlist que selecionei de forma despretensiosa. A letra diz: “Ele sabe o meu nome.” Naquele instante, em meio à brisa que anuncia a chegada da chuva, sinto essa mesma brisa alcançando minha alma. Sou tomado por um desejo de cantar, e repito a música incansavelmente até o fim da caminhada.

Não há mais murmurações, nem pedidos, nem reclamações. Agora, minha oração é de louvor:
— Senhor, Tu sabes o meu nome!

E lembro-me de algo fundamental: antes de fazer coisas para Deus, sou chamado a me relacionar com Ele. Porque Ele sabe o meu nome. Volto para casa. Minha cachorra está exausta — caminhamos bastante hoje. Mas meu coração está renovado, desafiado a buscar ainda mais intimidade com Deus.

Revitalizar uma igreja não é tarefa fácil. Decisões precisam ser tomadas, ações intencionais precisam ser executadas. É preciso liderar, treinar e capacitar pessoas. Também cuidar do patrimônio, da estrutura e dos ministérios. Mas acima de tudo, a igreja não é minha, nem das pessoas, nem da denominação. A igreja é de Cristo. Ela é a Sua noiva.

“Estou certo de que aquele que começou boa obra em vocês há de completá-la até o dia de Cristo Jesus.”
– Filipenses 1.6

Sou lembrado de que meu papel é me relacionar com Ele, até o dia em que O encontrarei face a face. Ele me ama. Isso basta.

Agora vou encerrando por aqui. Preciso fechar as janelas; a chuva lá fora finalmente começou. Mas dentro de mim, permanece a certeza: tudo está nas mãos d’Aquele que começou a boa obra.